Não tive eu uma vez uma juventude amável, heróica, fabulosa, para ser escrita em folhas de ouro, — sorte a valer! Por que crime, por que erros, mereci a fraqueza atual? Vós que achais que animais dão soluços de dor, que doentes desesperam, que mortos têm pesadelos, tratai de narrar minha queda e meu sono. Quanto a mim, posso explicar-me tanto quanto o mendigo com os seus contínuos Pater e Ave Maria. Não sei mais falar!.......... Contudo, creio ter terminado hoje a narração de minha temporada no inferno. Era realmente o inferno: o antigo, aquele cujas portas o filho do homem abriu........... No mesmo deserto, à mesma noite, meus olhos cansados sempre despertam sob a estrela de prata, sempre, sem que se emocionem os Reis da vida, os três magos, o coração, a alma, o espírito. Quando iremos, além das praias e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, a sabedoria nova, a fuga dos tiranos e dos demônios, o fim da superstição, adorar — os primeiros! — os primeiros! — os primeiros! — o Natal sobre a terra?.......... O canto dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos a vida.
RIMBAUD, Arthur. Uma temporada no Inferno. Pp.73, Ed.Civilização Brasileira. RJ, 1957
...estou só com meus abris, venta na noite é outono....o frio no peito apaga o fogo do conhaque nos recuos do meu sangue....e lendo, seu blog, sinto que temos tanto em comum....tanto a dizer...daquilo que está oculto em cada palavra...
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