quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A uma passante


A UMA PASSANTE

A rua em derredor era um ruído incomum.
Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala e o frenesi que mata.

Um relâmpago e após a noite! - Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes meu destino, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado - e o sabias demais!

Poema de Charles Baudelaire

7 comentários:

  1. Me projetando no eu lírico, o passante já é passado.
    So

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  2. Pelo contrário, passante é presente, é representado, é materializado é visualizado é colocado em um pedestal que poucas pessoas conseguiram chegar de tamanha que é sua simplicidade e seu brilho.

    "O verdadeiro poeta cria suas próprias regras gramáticas"

    Maiakóvski

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  3. Nesse caso(meu caso), o "já" denota q o passante já passou.
    Já é passado. Mas o q disse sobre o "pedestal..." é fato. Oi foi...
    Nunca, jamais... (lembrei-me de O Corvo, sogra). Esse desprezo dói, ou doeu(?). Ainda não me decidi.
    So.

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  4. Meu caro anônimo em primeiro lugar fiquei agradecido por vc ter evocado outro grande poeta do século XIX, Assim como Baudelaire.
    Edgar Allan Poe com seu poema O Corvo nos remete as mais variadas interpretações objetivas e principalmente subjetivas em relação ao seu poema, neste sentido..."nunca mais..." que em um primeiro momento parece algo vazio em outro passa a ser algo intenso. No decorrer do poema sempre no final de cada estrofe aparece "nunca mais", mas como já colocamos pode ser visto nas mais variadas formas, afinal sabemos que não existe verdade e sim interpretações de um mesmo fato e isso não quer dizer relativismo. O que estou querendo dizer é que tanto em O Corvo de Poe quanto em A uma Passante de Baudelaire não consigo visualizar os sentimentos de DOR ou Desprezo, pelo contrário nos mostra o quanto a vida dentro de suas particularidades se faz interessante em todos os sentidos em todas as formas, o segredo é aceitarmos e respeitarmos certas particularidades. Em relação ao pedestal é falo no sentido de que sem percebemos criamos um pedestal que acaba por distanciar, de fazer sagrado, complicado, algo simples como o desabrochar de uma flor.

    Em meu outro blog "Tribuna da Alcova" retornarei a representatividade de Poe e Baudelaire em Londres e Paris no século XIX.

    ATÉ

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  5. Justamente: a interpretação toma várias formas. Concordo.
    Tanto q, no primeiro comentário, escrevi "me projetando". Ou seja: minha interpretação.
    Vejo sim, o desprezo da passante ante os olhares interessados. Vejo tb q o poeta retrata, tanto o eu lírico qnt a passante em si.
    "Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!(...)" retrata justamente o desprezo desta. A meu ver, claro!

    O Nunca mais de "O Corvo" difere deste. Em O Corvo é perda, neste, desprezo.
    Mas o sentimento de dor existe, sim. Em ambos.
    Não creio q Baudelaire seja otimista qnt à vida. Tampouco Poe.
    Romantismo, meu querido. Romantismo.

    Ah, me lembrei de qnd brigava com o Prô de literatura... Bons tempos.

    Qnt ao outro blog, também tenhos minhas considerações. Um dia eu apareço por lá, se vc me der licença, claro.

    P.S.: Já te expliquei pq posto como anônimo. Mas assinei no final.
    ATÉ.
    So.

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  6. Não vamos ficar aqui em um debate interminável, mas Poe e Baudelaire nunca foram românticos, o último abandona o sentimentalismo romântico sem deixar de lado o "eu poético" porém o mesmo não é o cerne de seus poemas fazendo dele o maior da poesia moderna. Não podemos os esquecer que o outro para Baudelaire era formado por um tripé (deus, mulheres e multidão), voltando a Poe O nunca mais...é também certezas, respostas e possíveis novas tentativas, nunca desprezo. Em "A uma passante" de Baudelaire o que há é a imagem da mulher e da cidade se entrelaçando, como na canção "As vitrines" de Chico Buarque, ou seja, a cidade como palco de encontros e desencontros, nada mais.

    quando o texto estive pronto no outro blog, voltamos a este assunto.

    até

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  7. É, foi um lapso.
    Baudelaire começou com o Simbolismo. Mas ainda há resquícios do Romantismo, como o "eu" poético. Não é típico de todos os poemas, mas me parece deste. Me parece.
    Tentando ser otimista, este 'desprezo' citado não foi maldade. Somente resultado de um amor q começou e acabou ali msm, sem futuro. Fruto dessa pressa advinda da 'metrópole'.
    Ainda atual, não???
    Ainda assim, não deixa de fazer mal.
    Não citei desprezo em Poe. E, sim, perda.

    E, claro, não vamos ficar em um debate interminável. Apesar de eu me sentir realmente viva a partir de confrontos. Principalmente de ideias.
    Vou voltar a conversar com minhas amigas sobre sapatos!
    É que já fazia algum tempo que eu não me dedicava a um assunto tão sério e realmente importante.
    Foi bom pra mim (rsrs).
    Voltarei à minha insignificante futilidade.
    Até.
    So.

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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