sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Retrato de uma noite tão aguardada e ao mesmo tempo tão evitada....atualizado

... Sempre arrisquei, sempre mergulhei no novo e no desconhecido
Nunca me entreguei, sempre resisti
E poucas vezes me iludi
Nunca me intimidei diante de qualquer situação
Afora perto de você


Sempre enfrentei a realidade
Dei risada das dificuldades
Dancei com a vida e com suas brechas e possibilidades
Caminhei do centro da cidade ao campo, de um extremo da cidade; Clash Club, Space, pedreira Paulo Leminski, Masp, Pinacoteca, Vergueiro, barracas de estação, Galeria choque cultural, Augusta, Paulista e ruas de bairros distantes, Shows, exposições, peças, etc...fui de um lado da cidade ao outro sem me preocupar com que as pessoas acham de minhas roupas ou leituras, nunca nenhum olhar me intimidou
Afora o seu olhar


Sempre olhei a vida com outros no sentido de William Blake
E também a arte, o cotidiano, as pessoas, o cenário urbano e suas representatividades
Sempre olhei e proporcionei seja diante de um intelectual acadêmico, seja diante de um guardador de carros, um religioso o dialogo, a experiência. Sempre dei muita importância a comunicação, a criação, sempre ouvi, nunca me afastei do novo, nunca tive medo me expor
Afora perto de seu olhar


Hoje carrego um corpo que sinceramente não sei de onde veio
Achei como resposta problemas de saúde que me fez ter deixar muitas coisas de lado
Porém sempre tive a certeza que era algo passageiro
Sempre dei mais importância à mente, ao olhar, a sensibilidade artística
Nos últimos anos acabei acreditando em certas coisas, acabei deixando de lado outras, me tranquei em uma realidade que talvez nunca existiu
Fechei-me para o mundo para evitar encontrar certo olhar
Voltei-me para dentro de mim mesmo, senti na pele a crucificação encarnada que Henry Miller dizia para descobrir que não existi nada mais importante que um olhar, um sorriso, um gesto mesmo que distante, ou seja, a realidade como um meio e não com um fim.

Somente o olhar de uma pessoa me causou medo, me intimidou, me fez baixar a cabeça por insegura, me fez perder a voz, esquecer meu nome, fazer papel de bobo, de sonhador no sentido de Noites brancas de São Petersburgo de Dostoievski.


Mas é algo surreal em certo sentido, afinal se passaram anos e não teve um dia que não refiz em minha mente possíveis situações, que não me recordei de certas passagens de um cotidiano em comum...Isso que me perturba...provavelmente só fui um passante para este olhar.
Meu curso durou 5 anos e pode ter certeza que mais importante que um diploma de uma instituição “consagrada” está o olhar e o sorriso desta pessoa, pois foi através dele que percebi o que realmente quero fazer da minha vida, não importa o quanto complicado seja, ESCREVER.
Já fiz papel de idiota confesso, adentrando em espaços sem ser convidado...Fazendo-me recordar de um trecho de Tabacaria de Fernando Pessoa:

“... Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O Dominó que vesti era errado
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me
Quando quis tirar a máscara,
Estava pregada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já nõa sabia vestir o dominó que não tinha tirado
Deitei a mascara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime...”


Se ela soube-se que seu olhar me paralisava, talvez soube-se que não era metido ou algo assim. Nos últimos tempos estive evitando seu olhar, chegando tarde na espaço em comum, evitando os corredores do seu curso, os horários do mesmo. Eu que nunca me importei com a opinião de ninguém, eu que sigo os passos de Baudelaire, Lautréamont, Henry Miller, Rimbaud, James Joyce, Dostoievski, Kerouac, etc...ainda me intimido com seu olhar, do poder que ele tem sobre mim, ainda mais agora que...


Mas a vida nos prega peças...no meu último dia de aula, uma data tão aguardada, do nada quando menos esperava seu olhar surge e como sempre eu covarde não tive coragem de levantar o rosto e ver seu brilho. Que aliás está brilhando ainda mais, ainda mais linda.
Naquela mesma noite apresentei um seminário na aula de História e Literatura foi o melhor que já fiz, e durante a apresentação me recordei de minha estádia na PUC-SP, e fiquei feliz por não ter guardado nenhuma magoa destes anos, conheci pessoas incríveis que sempre vão me acompanhar de uma maneira ou outra...como esse olhar que mais uma vez me trouxe de volta para a vida e que me fez perceber que tenho que voltar a cuidar de mim, seu olhar que sempre brilha como uma estrela no céu e mesmo quando não faz mais parte da constelação continua a brilhar distante.


Naquela mesma noite a professora me convidou para ficar mais dois anos nesta mesma instituição.
Sinceramente não sei se aceito
Só tenho certeza de uma coisa
Você nunca foi Carolina
Sempre foi Cecilia!

Sempre em frente
E que a vida seja generosa para mim e para você
E uso das palavras de Francisco Bosco em relação a Vinicius de Moraes para lhe responder que a vida continua, mesmo que as mesmas não sirvam para mim pois estou mais para Dante da Divina comédia.


“...Para Vinicius, a experiência do amor é trágica. O que responde por essa tragicidade? O fato de que, para ele, o amor acaba: o amor é uma intensidade que queima, consome-se e consuma-se, esvaziando-se fatalmente. O que fazer, então, diante dessa experiência? Aqui começa a força: Vinicius fez um pacto com as altas intensidades e dispôs-se a pagar seu preço, igualmente alto. Pois se o amor é uma intensidade que, no tempo, esvazia-se, só lhe resta aceitar essa dinâmica e acatar o fim do amor - o que significa abrir novamente a possibilidade de um novo amor, da vivencia de uma nova intensidade alta, e assim sucessivamente...” (Francisco Bosco em Altas intensidades, artigo escrito para a revista Cult, nº 73).


Juan Moravagine Carneiro

5 comentários:

  1. é a intensidade que fica dos amores não vividos, dos não esgotados...dos que deixaram ainda a desejar...a imaginar!

    já acabou o curso?
    época de vazios e incertezas!
    o que será agora?

    boa sorte

    ResponderExcluir
  2. É, o amor acaba. E justamente por isso devemos aproveitar enquanto é intenso.
    Se bem q entendo essa sua necessidade (sei lá se é assim q podemos chamar) de se alimentar só de um olhar. Já aconteceu comigo.
    É q a força desses olhares nos faz imaginar situações perfeitas. Mas oníricas.
    E uma hora qualquer a gente percebe que os toques são imprescindíveis. Toques e cheiros e gostos...
    E é aí q a gente percebe q o amor acaba e a vida continua. Qnd a gente precisa de mais do q alguns olhares...

    Lindo, saudade de vc.
    E pode me processar pq isso me deu ideia pra um post no meu blog.
    rsrs
    Beijo.

    ResponderExcluir
  3. não estou distante.
    vivo por aqui, dando uma espiada.
    seus escritos estão mais acessíveis
    gosto mais assim.
    beijos

    ResponderExcluir
  4. Penso que você escreveu esse texto direcionado à uma pessoa.........então não vou fazer nenhum comentário...

    ResponderExcluir
  5. Como sempre agradeço os comentários e minhas desculpas por não retribuir da mesma forma em seus respectivos contatos. é que ando meio ausente!
    beijos

    ResponderExcluir

- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

Related Posts with Thumbnails