UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA
Como estive pensando em você esta noite, Walt Whitman,
enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores, com dor de
cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.
No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens, entrei no supermercado das frutas de néon sonhando com tuas enumerações!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras fazendo
suas compras a noite! Corredores cheios de maridos!
Esposas entre os abacates, bebês nos tomates! - e você,
Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?...
Ouvi-o fazer perguntas a cada um deles; Quem matou as
costeletas de porco? Qual o preço das bananas? Será você meu
Anjo?
Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o
e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja.
Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso
passo solitário, provando alcachofras, pegando cada um dos
petiscos gelados e nunca passando pelo caixa.
Aonde vamos, Walt Whitman? As portas fecharão em uma
hora. Para quais caminhos aponta tua barba esta noite?
(Toco teu livro e sonho com nossa odisséia no supermercado e sinto-me absurdo)
Caminharemos a noite toda por solitárias ruas? As árvores
somam sombras às sombras, luzes apagam-se nas casas,
ficaremos ambos sós.
Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor,
passando pelos automóveis azuis nas vias expressas, voltando
para nosso silencioso chalé?
Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor
de coragem, qual América era a sua quando Caronte parou
de impelir sua balsa e Você na margem nevoenta, olhando a barca desaparecer nas negras águas do Letes?
Um supermercado na Califórnia de Allen Ginsberg em Uivo: Kaddish e outros poemas (1953-1960). Prefácio, seleção, tradução e notas de Cláudio Willer.
Maluca como eu sou, ia correndo na direção dele muito antes que ele erguesse os olhos em minha direção.
ResponderExcluirCaminharemos a noite toda por solitárias ruas? As árvores
somam sombras às sombras, luzes apagam-se nas casas,
ficaremos ambos sós.
- aqui reside grande parte do meu medo da vida, o de ficarmos todos sós. Me ocorre que agora vc pode estar pensando sobre como eu sou medrosa! Sou sim. E tenho tentando não ficar paralisada diante de nada, mas viver não é fácil, vc sabe.
Tenha um sono tranquilo, e quando abrir os olhos, um dia pra se lembrar. Beijo carinhoso! =)
Praticamente um quadro surrealista esse seu microconto.
ResponderExcluirSobre Ágata, bem que ela poderia ter transado ou trançado com palavras dos beats, mas creio que ela esteja querendo revelar e não contar segredos de liquidificador.rs
abraços.
Hei de ler - ainda.
ResponderExcluirque saudade de vagear com as sombras noturnas.
ResponderExcluirtenho me recolhido cedo.
a vida anda tão chata...
vontade de perder entre as melancias...
(eu adoro melancia)