segunda-feira, 17 de março de 2008

Uma temporada no inferno

Rimbaud

Outrora, se bem me lembro, minha vida era um festim onde se abriam todos os corações, onde todos os vinhos corriam.
Uma noite, sentei abeleza nos meus joelhos. - E achei-a amarga. - E injuriei-a.
Armei-me contra a justiça. Fugi. Ó feiticeiras, ó miséria, ó ódio, a vós é que meu tesouro foi confiado.
Consegui fazer desvanecer-se em meu espírito tôda a aesperança humana. Sobre tôda alegria, para estrangulá-la, dei o salto surdo da fera.
Chamei os carrascos para, parecendo, morder a coronha de seus fuzis. Chamei as calamidades, para me sufocar com a areia, ccom o sangue. O infortúnio foi o meu deus. Estendi-me na lama. Sequei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.
E a primavera me trouxe o pavoroso riso do idiota.


RIMBAUD, Arthur. Uma temporada no inferno, Ed. Civilização Brasileira, 1957. pp, 41.

Um comentário:

  1. Os textos que vc posta são fortes, excitantes, interessantes. Mas gostaria de ler alguma coisa escrita por vc mesmo. Poemas, pensamentos, idéias, loucuras...qualquer coisa. rsrs


    Beijinhos.

    Kelly Jessie

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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