domingo, 8 de novembro de 2009

Notas de um dia...

A fim de esperar o sol baixar resolvo entrar dentro de uma loja de discos no centro velho de São Paulo. Freqüento está mesma loja desde minha adolescência, com o tempo fui descobrindo que ela é muito boa para se comprar vinis de Jazz, Bossa Nova e MPB, pode-se dizer que tudo que tenho em casa nesses estilos foram adquiridos nela que se localiza perto da Galeria Olido.
Hoje estava percebendo o quanto meu gosto musical mudou nós últimos anos, e também as redondezas da loja de discos...Lembro-me bem que quando eu tinha 19/20 anos gostava de parar em uma banca de jornal que vendia livros usados, as histórias do senhor que era dono eram muito interessantes, sempre achei que ele estava ali só para conversar pois nunca vi ninguém comprando nada lá e ele por sua vez não parecia muito interessado em vender.
Mas não era só ele que tinha bancas assim, na praça atrás da biblioteca Mario de Andrade tinha outro senhor, a banca dele parecia um museu, cheia de livros empoeirados, quadros e lembranças...Consegui bons livros com ele...infelizmente eles foram expulsos e suas bancas arrancadas do centro...uma pena.
Enquanto procurava algum disco que me interesse olho para a vitrine da loja e tenho certeza que realmente a banca não está mais lá, ao mergulhar mais uma vez em minha busca, me deparo com um disco do Charles Mingus e começo a dar risada sozinho, Pois me faz recordar da Frida.
Ela sempre aparecia do nada, silenciosa, misteriosa com seu jeito despreocupado como todo felino tem...apesar dela ser da minha irmã eu que dei o nome de Frida para ela...Um certo dia estava ouvindo um disco do Charles Mingus em minha vitrola quando o telefone tocou, hoje não me lembro quem era, mas me recordo como se fosse hoje do barulho do vinil sendo arranhado.
Na hora pensei que o braço da vitrola houve-se caído ou algo assim, porém não podia ser pelo simples fato do disco parecer voltar para trás contra a agulha...desliguei o telefone e fui correndo para o meu quarto e me deparo com a Frida finalmente conseguindo sair de cima da vitrola assustada.
Quando ela me viu percebi que ao mesmo tempo em que ela estava aliviada de ter se livrado do disco que girava em suas, parecia preocupado em me ver ali no mesmo quarto que ela, acho que ela tinha percebido que não gostei nada de ver que ela tinha destruído meu vinil do Mingus. Mas não sei por que achei aquilo engraçado e enquanto eu recolhia o cadáver do vinil e guardava em capa a Frida sumia pela casa. Hoje aqui estou eu com um novo disco em minhas mãos, levo-o até o caixa e o pago e saio satisfeito de ter feito uma ótima compra.
As brechas existentes no centro de São Paulo sempre me fascinaram...lojas de discos ou sebos sempre me atraíram, hoje eu sei aonde achar cada disco ou livro que precisar nas centenas de sebos e lojas de discos que se encontram no centro velho de São Paulo, porém há uns especiais. Como o sebo que fica na rua arás das “vielas” do lado direito do Fórum João Mendes sentindo Liberdade, que procura contra-cultura ali é o lugar, apesar de ser caro, nem tudo é perfeito!
Hoje em dia não gosto tanto como gostava antes da Liberdade, o bairro está ficando chato, sempre que vou visitar meu avô lá, vejo que têm menos bares bacanas abertos os que têm são frios, sem música, como se tudo agora fosse descartável, só servimos para consumir rapidamente em um lugar e sair, aonde está a identidade dos espaços e das pessoas?...o teatro ainda funciona mas o pessoal anda muito “moderno” se é que me entendem, mas ainda assim é um bairro interessante, é uma ponte em certo ponto, pode-se ir sentido Vergueiro e parar no centro cultural, ou voltar sentindo Sé ou até mesmo ir para Paulista, tudo a pé, ou seja, quando estou com dúvida para onde ir vou para lá converso um pouco com meu avô e sigo meu rumo.
Mas hoje não estou a fim de ir para lá, então continuo caminhando com o disco do Mingus embaixo do braço....este horário de verão sempre me engana...tenho que ir para faculdade e ainda nem tive tempo de terminar este texto....

2 comentários:

  1. será que só valorizamos as coisas que perdemos quanto elas deixam de existir ou se transformam?
    Amigo achei muito bom este texto, ele me fez refletir, tive uma sensação de nostalgia.Abraço
    João.

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  2. adoro seus textos pessoais. onde você deixa de ser um intelectual inatingível e passa a ser um heróico jovem nostálgico andando pelo centro de são paulo.
    como garota do subúrbio, nunca aprendi a desfrutar das benécies do centro antigo...uma pena!

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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