sábado, 20 de fevereiro de 2010

Beatriz

O relógio com os ponteiros quebrados se acomodam no alto de uma praça em quanto as vitrines da cidade...As pessoas dançam em volta da estátua de "Lieverdje" em chamas no ritual que se repete todos os sábados ministrado pelo Pontífice Grootveld em mais um de seus Happening onde o paradigma cartesiano não existe, e o ritmo do tempo não é pronto e acabado, pelo contrário, ele sempre renasce...como o fígado de Prometeu titã grego que roubou o fogo prioridade dos deuses dando ele aos humanos...Ah! o fogo sagrado que o filho de Clímene nos deixou também foi o deus de muitos lares reservados onde as mulheres de Atenas carregadas no colo eram apresentadas ao novo lar em uma cerimônia de casamento...A chama viva nas palavras do poeta romano Ovídio que no limbo da Divina Comédia de Dante Alighieri encontrou o mesmo que não o acompanha ao rio Lete onde bebe a água que o faz renascer como o tempo místico de um Happening.
Mas o tempo que não é o mesmo..."passou" para Carolina que mata sua sede em um bebedouro de um prédio tombado, decorado com vitrais religiosos, corrimões de madeira e olhares fortuitos...em uma sala quente, abafada, pouco ventilada e sem cortina mas cheia de sonhos...Carolina que também freqüentava o famoso prédio sempre se atrasava e quando chegava com seus cabelos molhados a exposição do orador para mim acabava...Mas na sala a noiva da cidade...enquanto os slides passavam você descansava apoiada...e sendo assim eu tinha que ir! E quando encostada no canto de uma parede entre os tambores e os clarinetes, o novo e o velho com seu mar ao meio... seus olhos..."Ela o olhou, e ele sentiu que o consumia uma chama - até os ossos": trecho de Simple Twist of fate do Bob Dylan...Carolina que também tinha o rosto, a casa e a vida de atriz...Carolina que não é Carolina para mim está mais para Cecília...que de cabeça baixa de sandália e trança...ou nas esquinas da cidade toda de preto se perdendo na multidão se perguntando se ainda prefere o brilho do sol em uma tarde de inverno.

Por Juan Moravagine Carneiro

4 comentários:

  1. Lindo...

    "passou" para Carolina que mata sua sede em um bebedouro de um prédio tombado, decorado com vitrais religiosos, corrimões de madeira e olhares fortuitos...em uma sala quente, abafada, pouco ventilada e sem cortina mas cheia de sonhos...

    O tempo passa, passam as pessoas, queiramos ou não.

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  2. Juan,

    que bela tela este teu escrito! Não me permito fazer uma leitura, pois seu contorno requer releitura, um enamoramento sem igual. Olho para o alfabético e sinto em meu corpo a dor fenomenal da chama que provocas ao consumida. Ah, como é boa a sensação de um texto sacudir até os ossos. Sou permitida no que escrevinhou a retornar, afinal, 'o ritmo do tempo não é pronto e acabado, pelo contrário, ele sempre renasce'.

    Brilhante Vaso! A vasa transborda e prosta-se diante de sua excelência em dedos, como a tinta bailou no papel.

    Paz,
    Priscila Cáliga

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  3. Carolina...é como toda menina, que chora, sonha e clama por um amor...
    Quero um dia poder ser Carolina...quero olhar para um certo alguém e consumi-lo com toda intensidade do brilho do meu olhar.

    Magnifico...

    Xerim!!!

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  4. que trechinho mais lindo foi que recebi no pequenas epifanias.


    obrigada!!


    encantada eu fiquei.


    e que bonito seu espaço.
    e suas palavras.


    boa semana...

    de muita luz e amor.

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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