sexta-feira, 12 de março de 2010

Tabuleiro trincado II



 Borboletas gritam
As serpentes rastejam
Os móveis se aconchegam
Suspiros dentro de um útero furado
Biscoitos escorregam devido ao sebo nas paredes
As torneiras estão abertas e o porão está molhado
Os cachorros brincam em volta da mesa
Moscas correm pelos corredores
Idosos cospem suas dúvidas por todos os lados
Enquanto os vazamentos levam suas certezas
Pedaços de mente vagueiam por um túnel iluminado
Arcanjos amordaçados transpiram suor sangue
A temperatura está abaixando enquanto os sinos tocam
Uma virgem sonha com os toques de seu amante
A viagem está se iniciando
Pílulas brancas constroem o percurso
O comandante grita anunciando a partida
Marujos correm para seus postos
Deixando para trás fadas acorrentadas
O crepúsculo renasce rachado diante da Ágora habitada
Por jogadores,
Devedores,
Prostitutas e assaltantes de capelas e supermercados
Todos estão confusos diante dos doentes achatados
Que embarcaram em última hora
No cais à batida dos tambores aumentam enquanto alguns festejam
A partida do navio marcado
O mar corresponde, ventos acordam
A tempestade está aumentando
As crianças gritam em despedida
Os
pais marginalizados respondem com acenos

O ritual recomeça
Sem que ninguém perceba

Poema: Juan Moravagine Carneiro
Imagem: O absinto, Edgar Degas, 1834-1917

2 comentários:

  1. Vazamentos levam certezas...

    Fiquei cá a pensar nisto.

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  2. Gostei bastante do ínicio, depois fiquei meio confusa, acho que ainda não tenho capacidade de entender esses poemas D: ... mas adoro o jeito que você escreve! E como eu havia comentado, algumas partes me lembraram Augusto dos Anjos! Beijos!

    ResponderExcluir

- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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