segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Dançar sozinho é sempre complicado!


O tempo achatado se deita ao meu lado
em um banco de praça pouco habitada em dias de muito frio.
O carrinho de feira atravessa o cruzamento,
deixando cair pelo chão, restos de algum açougue
O olhar distante percebe logo adiante
e volta em disparada em busca das partes no chão
já sendo lambidas por coiotes urbanos...

Me sinto inquieto e sozinho
diante de certos fatos
Se certos sentimentos nostálgicos me acompanham,
o que posso fazer?
A realidade me chama
Sei que não posso viver em uma bolha e achar que tudo é lindo
conto de fadas. não é por que seu sorriso ainda me encanta que vou alimentar um mosaico banhado de ilusões e práticas idiotas.
Não quero carregar o pavoroso riso do idiota em volta de mim.

Se ao andar pelas ruas me vejo diante de "misturas" de toda uma semana sendo recolhidas de um asfalto quente, se vejo uma criança quase ser atropelada na tentativa de salvar pelancas de gordura, se vejo carros buzinando, pessoas gritando para ela saír da frente que eles não querem sujar so pneus de seus carros...

Se esta é a realidade que observo ao caminhar pelas ruas do centro de uma grande cidade, e mesmo assim ainda consigo me lembrar de seu olhar,
tens razão...
a nostalgia é minha amante!

Se as palavras em minha boca ainda não se afogaram em sua saliva
Se sua lingua não leu meus pensamentos
Se suas "amigas" orientais não sabem meu nome
Se suas digitais ainda habitam "Beth Gibbons" em minha prateleira
é porque dancei com você...!

E que dança...

Como diz a canção "o que é um beijo, se tenho seu olhar"

Texto: Poema de Juan Moravagine Carneiro
Imagem: Trabalho dean Bansky

26 comentários:

  1. acabas de me recordar de um livro com uma ironia desabrida que li há uns anos e a partir do qual fiz uma pequena rábula cinemática: "os coxos dançam sozinhos", de josé prata.
    de novo, um texto em que captas o que os olhos não vêem, meu caro...
    um abraço!
    p.s. tens correlacionado com este post um trecho de beth gibbons. adoro! coincidentemente, pus o seu "mysteries" a acompanhar o meu último post lá no viagens.
    abraço renovado!

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  2. Esses olhos nostálgicos escondem o desejo de abraçar tronco, braços, pernas e serenos. E, lembrando de outra música que leva a dança em sua melodia, deixo-a aqui: "eu não sei dançar tão devagar, para lhe acompanhar". Um beijo, Deia.

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  3. Belo, menino, belo!Registros que testemunham um momento real...de dança!
    beijos

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  4. Juan,

    perdoe-me a ausência.

    muita coisa andou acontecendo...
    logo te escrevo.

    assim que essa nuvem-negra passar, te escrevo numa tarde tranquila de sol :)

    abraços!

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  5. Muito intenso, pleno de força tirada de uma nostalgia, a amante. Gostei imensamente.

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  6. tem coisa q nem a maior catástrofe é capaz de apagar...

    [ah, vi Pixies ali do lado e fiquei feliz e nostálgica e lembrei de 'Here Comes Your Man']

    bj

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  7. Olha eu casava com você se eu ganhasse um texto desses.


    ehehehehhe

    bom dia.

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  8. Conseguiu fazer uma mistura gostosa de ler entre a realidade impactante e a magia dos sentimentos. Muito bom, meu caro.

    Abraço!

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  9. O que é conhecer-te, se tenho seus escritos?

    Eu adorei!

    bj
    Rossana

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  10. olá Juan, intenso seu texto, com passagens para o pensamento e a nostalgia, legal.

    abraços
    ns

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  11. Lindo, intenso, magnifico!
    Sua escrita não deixa ninguém indiferente. Qualquer um estremece lendo o que escreve.

    Bjs
    MariaIvone

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  12. Estar sozinho é sempre mais complicado.

    bjs
    Insana

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  13. Li seu texto com olhos nostálgicos...

    Abraço!

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  14. Querido,

    Dura a realidade que descreveste. Dolorida. Mas, "apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la". (Bertolt Brecht)

    Beijos!

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  15. Rafa


    Dançar sozinho perde a graça...é melhor ter
    a nostalgia como amante!

    Lembrei-me de "O teu olhar" de Florbela Espanca: "Mares onde não cabem teus desejos, Passam no teu olhar mundos inteiros"...
    Mil vezes guardar um olhar à um beijo!


    Bjo grande, meu querido!

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  16. A nostalgia sempre foi minha amante primeira, os outros vão, e ela sempre volta. Minha dança é com essa companhia invisível.

    Ótimo texto! Adorei =)

    Beijo.

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  17. Dance sim.
    Há muita perspectiva em você - que sabe olhar.

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  18. deixando cair pelo chão, restos de algum açougue: original. Pintura feita tecido e som!

    Felipe Ribeiro

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  19. Não se preocupe pela ausência! Os amigos têm lugar cativo nas lembranças. ;) - Também ando atrapalhada com as horas.

    Um belo texto, meu caro!

    Abraços

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  20. É dura a realidade. São tristes as coisas, consideradas sem ênfase - disse o poeta. Por isso existe a poesia, para iluminar a realidade. Não eludi-la, ela existe e precisa ser transformada. Bom. O início dessa transformação pode ser pela poesia.
    Um abraço amigo.

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  21. Rafael,

    pela saudade mansa e dolorida de quem habita. A dança em suas facetas no múncio de um olhar a pintar no escuro. Na própria respiração, há momentos. A mais alta declaração: na disposição das linhas e das cores.

    Brilhante querido.

    Priscila Cáliga

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  22. Sempre me surpreendo com teus textos! Estava com saudade da sua escrita, de suas referências ácidas e de seu romantismo!

    beijo grande!

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  23. Juan, querido, só posso concordar: que dança!
    e o olhar...ah! o olhar é o que nos rouba da gente...

    beijo grande

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  24. Como é que ninguém me falou nada que esse blog estava aqui?
    Como é que eu fiquei a dançar sozinha, e danço sozinha para me manter deliciosamente cafona, todo esse tempo se por aqui já havia uma vasta quantidade de parcerias?

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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