sábado, 5 de novembro de 2011

Aceita uma dança?

A VOLTA DE KUBRICK




Malcolm McDwell, protagonista do clássico Laranja Mecânica, fala da influência do filme sobre a moda, música e política.

Costelas quebradas, córnea arranhada e um imenso desgaste mental. Essas foram algumas das lembranças físicas levadas pelo ator que deu vida ao icônico personagem Alex DeLarge ao fim das filmagens de Laranja Mecânica, lançado em 1971.



CULT – Vê paralelo entre o filme e os recentes protestos em Londres?

Malcom McDwell - Sim, mas acho que é mais uma coincidência do que qualquer outra coisa. A maioria dos manifestantes era jovem, não de origem pobre nem nada, mas emocionalmente abandonada. E, por causa da crise econômica, os programas sociais foram cortados...

Eles saem da escola, não há emprego, e eles estão putos da vida, sabe? E não há nada a fazer por eles!...



Onde buscou inspiração para o personagem?

Estava tudo no livro. Eu sabia que não poderia ser uma performance realista, tinha de ter certo estilo, uma espécie de senso de humor perverso, pois estávamos pedindo para a audiência com um personagem imoral – e essa é uma diretriz estranha para um ator receber, pois ele é um estuprador e um assassino.

Mas a audiência precisava gosta dele.

 
O senhor gostava?

Sim. É só olhar para seus pais para simpatizar com ele de alguma forma. São emocionalmente vazios; qualquer criança que crescesse assim acabaria se tornando estranha.

Mas eu me concentrei mais na sua inteligência, no amor pela música, essas coisas. E, é claro, ouvi a Nona Sinfonia de Beethoven muitas vezes para entrar no clima.

O legal desse filme, para mim, foi que me introduziu a Beethoven de um modo mais profundo. E você não se cansa de coisas que são atemporais, clássicas.



Como explica a relação do personagem Alex com a sinfonia?

É absolutamente inspiradora e, vivendo a vida como ele vive – em um lugar sem coração, onde não há absolutamente beleza alguma, onde tudo é básico e feio -, Beethoven era uma ilha para onde ele poderia escapar, dentro de sua mente.



No documentário, o senhor diz que foi um filme “muito físico”. O que quis dizer?

Eu me machuquei algumas vezes, quebrei as costelas, essa coisa toda. Então foi fisicamente exigente, mas, sabe muitos filmes o são. Mas era também muito exigente mentalmente. Depois que terminamos de filmar estava completamente exausta, eu tirei um ano para descansar.



E em relação à icônica cena do olho, como se sente?

Bem, eu acho que Kubrick estava certo. É uma sequência incrível. E ali que o público se descoloca para o lado do Alex. Em termos de como ele dirigiu a cena foi puro brilhantismo. É claro que ter de fazer a cena foi horrível. Arranhou minha córnea. Mas eu entendo porque ele queria a cena

Laranja Mecânica é um ponto de referência e , se você assistir a ele com uma bela imagem, em uma grande tela, é um incrível passeio emocional.



E como foi seu encontro com Anthony Burgess?

Tivemos uma relação muito amigável, era um homem simpático e um brilhante contador de histórias ...



O livro termina de modo diferente do filme, não? Isso teria o deixado chateado?

Não. O final ao qual você se refere foi encomendado pelo editor norte-americano, ou inglês, que queria suavizar o fim da história. Burgess fez um rápido último capitulo para satisfazer o editor, e foi isso. Ele me disse que nunca considerou aquilo parte do livro, e que era basicamente lixo.



Em relação à adaptação de Kubrick, qual a sua opinião?

Sinceramente, acho que o filme é uma das melhores traduções de um grande livro que você vai encontrar. E é quase impossível pegar um grande livro e fazer um grande filme – já aconteceu, mas é raro.



Tem alguma teoria no que diz respeito ao título de Burgess, A Laranja Mecânica [o nome do livro leva artigo]?

É um título brilhante, mas ninguém sabe o que significa. Perguntei a Burgess e ele me disse que ouviu a frase em um pub no leste de Londres. Um Cockney disse: “ele é tão estranho quanto uma laranja mecânica”. O que significa que ela é peculiar, diferente. É um título perfeito.



KODIC, Marília. A volta de Kubrick em Revista Cult.pp162. 10/2011

Um comentário:

- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

Related Posts with Thumbnails