quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Madrugada...

Desisto de lutar contra o calor nesta madrugada e me levanto da cama em busca de algo para fazer. Escolho um disco entre tantos para me fazer companhia enquanto começo a rabiscar estas poucas palavras.



Minha presença sempre esteve ausente em vários lugares, porém, mesmo na ausência me fazia presente, nunca fui de querer chamar atenção, me fazer do mais isso ou aquilo, sempre dei mais importância ao olhar, aos gestos, aos detalhes. Olhar o mundo com outros olhos é a chave de nossas portas já dizia Blake! E por que não também de nossas janelas!


Não só ouvir o outro, mas entrar no mundo dele e fazer de tudo para realmente compreender o que ele quer dizer, sempre fui assim, mergulhando e tentando entender e compreender o que realmente querem nos falar... Isso desgasta, tira suas forças, principalmente quando você percebe que este esforço não é recíproco. Nunca vi diferença de um professor universitário para um morador de rua, sempre procurei perceber as particularidades e a subjetividade de ambos em seus respectivos contextos. A realidade infelizmente não é assim. Cada vez mais as pessoas se trancam mais, criam centenas de mascaras para inventar uma identidade que a muito não tem. Não conseguem conversar olhando nos olhos, sempre estão apelando para algo no sentido de se sentirem maiores, seja livros, roupas, “estilos”, a real essência a muito não vejo.


Apesar dos meus vinte e poucos minha ausência já esteve presente em muitos lugares e hoje me vejo cansado mentalmente e fisicamente... As paredes do tempo estão descascando, mas parece não passar para mim... Talvez eu tenha caído em uma armadilha que eu mesmo criei uma ilusão, talvez eu esteja vivendo um luto de algo que nunca tive e que nunca aconteceu... A cada dia que passa mais cascas caem no chão e eu não consigo sair, talvez seja por que eu nunca quis sair realmente. Nos últimos quatro anos as cascas caíram e caíram e caíram e meus pensamentos não mudaram, a dúvida rasteja e rasteja em volta de mim... A boêmia no sentido de Utrillo, Poe, Henty Miller, me fez acreditar que eu era pouco, que meu cotidiano era um tanto quanto tumultuado para conseguir atingir certo olhar.


Mas sem percebemos a Roda Viva segue seu curso nos jogando para lá e para cá, fazendo de nossas certezas e de nossos sonhos algo minúsculo perto de tantos acontecimentos que chegam sem ser anunciados! Um belo dia você acorda e tudo mudou suas roupas, seu cabelo, seus gostos, seus amigos, suas companhias, os lugares que você freqüenta... Só o olhar resiste ao tempo, mesmo cansado ele é quem mostra quem você realmente é, ele diz tudo, como o fígado de Prometeu que se levanta toda manha em busca de algo, uma eterna busca, mesmo sabendo que vai ser devorado por uma enorme ave... Preciso descansar um pouco, quem sabe o sitio do meu avô...


Sendo assim, talvez minha ausência se faça presente também neste espaço em uma tarde qualquer...



Juan Moravagine Carneiro

2 comentários:

  1. a vida é fantástica, colorida e ensolarada. ela é simples, o glamour é uma ilusão. é feita de crianças, subidas e descidas, copos de conhaque, bolinhas de sabão...e é linda assim!
    coragem...você é uma criança e a vida toda te espera ao amanhecer.

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  2. Olhar nos olhos: é tudo que eu mais queria...

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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