domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desejos

"Eu era um sujeito então perseguido pela saudade. Sempre fora, e não sabia como me desligar da saudade e viver tranqüilamente.
   Ainda não aprendi. e desconfio que não aprenderei nunca. pelo menos já sei algo valioso: é impossível me desligar da saudade porque é impossível me desligar da memória. É impossível se desligar daquilo que se amou.
   Tudo sempre estará sempre junto conosco. sempre teremos tanto o desejo de refazer o bom da vida como o de esquecer e destruir a lembrança do mau. apagar as maldades que cometemos, desfazer a recordação das pessoas que nos prejudicaram, remover as tristezas e as épocas de infelicidade.
   É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. talvez, para a nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente. e isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar de nossa fatia de festa.
   Eu ainda estava assim. tirando todas essas conclusões. a loucura me rondava e eu fugia dela. tinha sido demais em muito pouco tempo para uma pessoa só..."

Trechos do conto Enterrado em merda de Pedro Juan Gutiérrez

6 comentários:

  1. não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar de nossa fatia de festa.

    Ah, a nossa fatia da festa.

    Sou irremediavelmente apaixonada peo Gutierrez - e já peço permissão para roubar e postar este trecho outro dia ;)

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  2. Minha maior luta: entender por que temos a ideia de que precisamos "ter alguém"; Por que só nos recuperamos de uma perda quando substituímos o que foi perdido? Umas das frases feitas que mais desprezo: "só um novo amor pra curar o antigo". Parece reposição de mercadoria.
    Saudade acaba se transformando em memórias (ou bloqueio delas).
    O pior é que, o que se sente na verdade, é a falta de uma situação comoda. Nos acostumamos com uma pessoa, uma cidade, uma casa e temos dificuldade em nos desvencilharmos. Mesmo que esse passado tenha sido sofrido. É o costume, afinal, que nos segura e nos impede por um bom tempo de seguirmos com a vida.

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  3. Juan,

    não vim para comentar, pois voltarei para comentar. Apenas para lhe apresentar meu outro espaço, sou gulosa ou muito lunática. [rs]

    http://pcotaveira.blogspot.com/

    Paz,
    Priscila Cáliga

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  4. eu tento fugir da saudade. terreno traiçoeiro de chão mole que engole a gente na mais suave pisada...por isso...desvio, tento escapar.
    minha maior saudade é do "nunca mais"...esse sentimento definitivo da imagem da tampa do caixão.

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  5. Lindo! saudades e lembranças nos acompanham sempre sejam boas e ruins apredemos a conviver com elas.
    Belo Blog
    parabéns!

    Abraço

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- Chegue diante do quadro sem intenção preconcebida de sarcasmo.

- Olhe para a pintura do mesmo modo como olharia para uma pedra talhada. Aprecie as facetas, a originalidade da formam, a luta com a luz, a disposição da linha e das cores [...]

- Escolher um detalhe que seja a chave do conjunto, fixá-lo por um bom tempo, e o modelo surgirá.

- Nessa última comparação, deixar-se levar até as regiões da mais requintada Alusão.

Max Jacob


Que os vasos se comuniquem!

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