"... A vida não gosta dos queixumes dos vivos. Ela os suborna com diferentes graus de capacidade de contentamento e aceitação das circustâncias excepcionais. Isso ocorre igualmente com o exilado, o estrangeiro ou o preso, e algo parecido com isso também ocorre com o perdedor, o derrotado e o abandonado. Da mesma forma a vista se acostuma pouco a pouco coma a escuridão, eles se habituam com às condições excepcionais impostas. E, quando se acostumam com a exceção, esta começa a ser vista, de certo modo, como natural.
O estrangeiro não pode planejar o futuro a curto ou a longo prazo, nem memso programar um único dia, pois sempre haverá um motivo para não da certo; mas pouco a pouco acostuma-se a improvisar na vida. seus entimentos com relação a seu futuro e ao de sua família são os mesmos dos trabalhadores imigrantes ou dos diaristas; qualquer convívio com quem ama é breve, por mais que dure...
Ele sabe como ser um amante seguro e também contido. Ele se apróxima toda vez que se afasta e se afasta toda vez que se apróxima. Deseja os dois estados e as duas posições ao mesmo tempo. Toda casa que é sua é dos outros também, como se sua vontade fosse pendurada em outras vontades.
E, se for POETA, ele é estrangeiro para o "aqui", estrangeiro para qualquer "aqui" do mundo. Ele se esforça para salvar suas pérolas pessoais, mesmo sabendo que elas não valem nada no mercado.
Escrever é um deslocamento, deslocamento de um contrato social comum. Deslocamento do habitual, do padrão, da forma pronta, deslocamento dos modos habituais de amar e dos modos habituais de inimizar. Deslocamento da natureza confessional do partido político e deslocamento da idéia de apoio incondicional.
O poeta luta para se desvencilhar da língua dominante e ir para uma outra que se expressa a si mesma pela primeira vez. Da mesma forma, se esforça para se livrar das correntes da tribo, de suas preferências e tabus.. Se comseguir escapar e se libertar, então vira estrangeiro. O poeta parece ser estrangeiro na mesma medida em que é livre. Quem é tocado pela poesia, pela arte ou pela literatura em geral tem a alma atormentada por tantos estranhamentos que ninguém pode curá-lo...
Ele se apega a uma forma particular de receber o mundo e de transmiti-lo. É inevitável que seja desprezado por que tem receitas prontas, pelos acostumados ao habitual. Chamam-no de "aéreo", "temperamental" e dizem que "não se pode contar com ele", além de outros adjetivos dispostos feito vidros de picles nas prateleiras daqueles que não conhecem o que é pertubação, daqueles que lidam com a vida com uma simplicidade imprópria
Texto: Techo de "Eu vi Ramallah", escrito pelo autor Mourid Barghouti
Imagem:Cenas da animação "Persepolis".
Disse o Freud que todas as coisas sobre as quais ele escreveu, um poeta as tinha dito antes...
ResponderExcluira ideia de que o poeta procura a todo transe desenvencilhar-se do código linguístico que o amarra para criar o seu próprio sistema (muito para além do linguístico) é, sem dúvida, a primeira verdade de qualquer manifestação estético-artística e, nesse sentido, também poética.
ResponderExcluirum abraço, caro juan!
Juan, sim, o Poeta é um estrangeiro nesse mundo e se assim não fosse não seria Poeta, né? Muito bom o texto.
ResponderExcluirBeijão
Fantástico, Juan!
ResponderExcluirTexto e imagem. O poeta sempre será um temperamental "esquisito" e portanto estrangeiro, caso haja um deslocamento em sua linguagem.
Um forte abraço!
Mirze
"a alma atormentada por tantos estranhamentos..."
ResponderExcluirah, Juan, tantas sensações me passou esse texto.
e as ilustrações... amei :)) gosto muitoooo de Persepólis ^^ um dos meus preferidos!!
abraços.
Hum... ótima escolha...
ResponderExcluirO que seria O Poeta?
O que torna alguém Poeta?
Abraço!
Gostei muito desse texto.
ResponderExcluirNão apenas pelo poeta, mas pelo estrangeirismo e, especialmente, pelos subornos da vida.
Recebo tantos todos os dias que as vezes acho que me queixar acaba sendo incoerente.
Como todo cidadão corrupto que se queixa dos políticos.
Se eu pudesse escolher não escreveria,
ResponderExcluirdoi. Sou como em Persópolis, às vezes.
O que afinal, seria o poeta???
ResponderExcluirJuan, eu gosto daqui.
Gosto de ti!
Um abraço meu!
Perfeito. De alguma forma, como artista, eu me sinto aí definido. Pelo tom, pela imagem do estrangeiro, eu me lembrei do texto O VIAJANTE, de Nietzsche, que fecha o livro Humano, Demasiado Humano, embora lá ele se refira ao homem que pensa por si próprio.
ResponderExcluirBom ler isso.
Abraço.
Pensar por si mesmo... e expressar-se de forma única e particular... não é uma tarefa fácil, muito menos brota de terrenos superficiais. Há que se ter coragem, conviver com a escuridão da alma, iluminar-se no conhecimento transcendente, vibrar de indignação e exultar de júbilo pela vida, mesmo quando se fala da dor de viver.
ResponderExcluirMaravilhoso e verdadeiro texto.
Saudades de vc, menino.
Beijos.
'Seria algo em torno do que a Literatura faz com as pessoas, e não do que estas fazem com aquela...' Muito bem escolhido o texto(e as imagens), Deslocou-se...
ResponderExcluir"Quem é tocado pela poesia, pela arte ou pela literatura em geral tem a alma atormentada." Isso é realmente verdade!
ResponderExcluirTexto fantástico, Juan! Diversas sensações me passaram durante a leitura!
As imagens também são ótimas! ^^
Um grande beijo, querido!
Juan,
ResponderExcluirEsse Mourid Barghouti entrou dentro dos meus estranhamentos.
Minhas "pérolas" não andam valendo muito em nenhum mercado e realmente não se pode contar comigo para coisas práticas.
Deslocada e tresloucada me pergunto se isso faz de mim um poeta?
:)
Me faz feliz com sua passagem pelo meu canto.
bj
Rossana
Adorei esse filme.
ResponderExcluirIdentifiquei-me.
ResponderExcluirNada é mesmo em vão.
Meu nome tem o significado: estrangeira.
Exato.
ResponderExcluirGostei da postagem. Aprendi.
É tudo verdade.
ResponderExcluirÓtimo texto.
Abração, poeta.
é incrível o tema do estrangeiro. me lembrou uns textos do Simmel que andei lendo. E a comparação do estrangeiro e poeta é ótima também. gostei muito.
ResponderExcluirobrigada pela visita nas conchas!
ResponderExcluirAbraço.
e olha que o poeta é um estranho no ninho sempre, uma vez escrevi uns versos sobre isso mas que não completei, admito que é muito difícil ser poeta
ResponderExcluirEi!
ResponderExcluirOtimo post.
Saudade de ti...
Bjinsentre sonhos e delírios
estrangeiro, estranhamentos..., es´s, faltou esquisito, definitivamente, poetas não são seres locais e a linguagem poética apesar de entendida é um idioma diferente.
ResponderExcluirbjs